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sábado, 25 de maio de 2013

Evangelho 9º Domingo do Tempo Comum — Lc 7, 1-10 — Ano C 2013


Comentários ao Evangelho  9º Domingo do Tempo Comum  Lc 7, 1-10 — Ano C 2013
Naquele tempo, 1 quando acabou de falar ao povo que o escutava, Jesus entrou em Cafarnaum. 2 Havia lá um oficial romano que tinha um empregado a quem estimava muito, e que estava doente, à beira da morte.3 O oficial ouviu falar de Jesus e enviou alguns anciãos dos judeus, para pedirem que Jesus viesse salvar seu empregado.4 Chegando onde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: “O oficial merece que lhe faças este favor, 5 porque ele estima o nosso povo. Ele até nos construiu uma sinagoga”.
6 Então Jesus pôs-se a caminho com eles. Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizerem a Jesus: “Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa.7 Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente a teu encontro. Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado. 8 Eu também estou debaixo de autoridade, mas tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Se ordeno a um: ‘Vai!’, ele vai; e a outro: ‘Vem!’, ele vem e ao meu empregado ‘Faze isto!’, e ele o faz”.
Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Virou-se para a multidão que o seguia, e disse: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”.10 Os mensageiros voltaram para a casa do oficial e encontraram o empregado em perfeita saúde (Lc 7, 1 -10).

A medida de nossa fé é nossa esperança
Nosso Senhor Jesus cristo pode e quer nos auxiliar em todas as nossas necessidades. Mas Ele condiciona a manifestação de sua onipotência misericordiosa à intensidade de nossa fé.
O VERBO DIVINO É ONIPOTENTE
Pelo semblante se conhece um homem; pelo aspecto do rosto se reconhece o sábio. A maneira como um homem se veste e como sorri, e a sua maneira de andar revelam aquilo que ele é”, observa o Eclesiástico (19, 26-27), transformando em máxima esse curioso matiz do relacionamento social. De fato, observar o exterior de uma pessoa leva-nos a melhor conhecê-la, pois algo da própria personalidade transparece tanto através da constituição física do corpo, quanto por meio de suas reações temperamentais.
Assim, embora o homem não veja o que se passa no interior de seu semelhante, pode discerni-lo pelas manifestações exteriores. Tal capacidade de percepção ocupa importante papel na vida em sociedade, pois, permitindo ao homem formar uma noção mais completa a respeito de seu próximo, propicia certa facilidade de mútua compreensão e adaptação, fatores indispensáveis para uma boa convivência.
Não obstante, essa regra teve uma singular exceção na História: Nosso Senhor Jesus Cristo. Sem dúvida, seu semblante e modo de ser denotavam, de forma indiscutível, um caráter superior. No aspecto físico não havia a mínima incorreção; dos gestos e do olhar emanavam nobreza e sublimidade, além de uma irresistível força de atração sobre quem O contemplasse, mesmo por poucos instantes. Contudo, por mais extraordinária que fosse a compleição de Jesus — a qual refletia sua perfeitíssima alma humana —, ela não evidenciava sua personalidade divina. E essa foi a prova de todos os que d’Ele se aproximaram durante os 33 anos de sua vida mortal: crer na divindade d’Aquele Mestre “exteriormente reconhecido como homem” (Fl 2, 7).
Com efeito, se o Verbo Se apresentasse em toda a magnificência de sua personalidade, ninguém cogitaria ser Aquele o “filho do carpinteiro”, e todos — até os que se recusassem a aceitá-Lo — seriam obrigados, pela força da evidência, a ver n’Ele o próprio Deus. Entretanto, além dos outros efeitos da sua vinda ao mundo, Deus quis dar aos homens o mérito da fé diante do mistério da Encarnação. Para tal, assumiu totalmente nossa débil natureza, à exceção do pecado, sujeitando-Se à fome (cf. Mt 4, 2), à fadiga (cf. Jo 4, 6), à sede (cf. Jo 4, 7) e ao sono (cf. Mc 4, 38).
Sendo patente que Nosso Senhor era verdadeiro homem, fazia-se necessário demonstrar que Ele era também verdadeiro Deus. Foi o que fez durante sua vida pública, ensinando com autoridade e operando milagres. Estes revelavam de modo inequívoco sua divindade, quer confirmando a veracidade da doutrina — a qual continha revelações acerca de sua origem divina —, quer por serem feitos por sua própria virtude, ou ainda porque transcendiam todo o poder criado.1
A onipotência manifestada ao operar os milagres é um atributo próprio de Deus, intransferível a qualquer criatura, inclusive à humanidade de Cristo. Portanto, ao usar os predicados humanos para suspender as leis da natureza — por exemplo, tocando o leproso e dizendo-lhe: “Eu quero, sê curado!” (Mt 8, 3) —, Jesus mostrava a realidade de sua Encarnação, na qual, conforme ensina São Tomás, “a natureza humana é instrumento da ação divina, e a ação humana recebe poder da natureza divina”.2
Daí decorre que, presenciando um só milagre, até mesmo os que recusavam seus ensinamentos não tinham mais motivos para duvidar de seu poder divino, como declarou o próprio Re dentor: “Se eu não faço as obras de meu Pai, não me creiais. Mas se as faço, e se não quiserdes crer em mim, crede nas minhas obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está em mim e eu no Pai” (Jo 10, 37-38).
As páginas do Evangelho guardam numerosas passagens nas quais reluz essa onipotência do Homem-Deus. 0 90 Domingo do Tempo Comum traz à nossa consideração uma delas, realçando a nossos olhos a figura de um pagão cuja fé é elogiada pelo próprio Jesus.
PRENÚNCIO DA CONVERSÃO DOS GENTIOS
Naquele tempo,1 quando acabou de falar ao povo que o escutava, Jesus entrou em Cafarnaum.
Pouco antes de se dirigir à cidade, Nosso Senhor concluíra uma de suas mais belas pregações, a qual tivera por prefácio as bem-aventuranças. Desde o oferecer a outra face ao agressor e emprestar sem exigir devolução, até o surpreendente “amai os vossos inimigos” (Le 6, 27), o sermão deixara consignada a nova perspectiva de relacionamento social trazida por Cristo, a qual estendia a um âmbito universal o amor, então circunscrito aos limites da reciprocidade. São Lucas registra este discurso como antecedente imediato do episódio contemplado no Evangelho de hoje, visando mostrar como Jesus confirma tal doutrina com o exemplo de sua própria conduta.
2 Havia lá um oficial romano que tinha um empregado a quem estimava muito, e que estava doente, à beira da morte.
São Mateus, narrando este mesmo fato, precisa a categoria do oficial: é chefe de uma centúria, subdivisão inferior da infantaria romana, correspondente à sexagésima parte de uma legião. Devido às vastidões do Império, as legiões eram enviadas a regiões estratégicas. Na Palestina, havia centúrias estacionadas em locais como Cafarnaum — por estar situada na fronteira norte da Galileia. Se houvesse necessidade, recebiam reforço de outras unidades que se encontrassem próximas.
Embora pagãos, os centuriões gozavam de grande popularidade entre os judeus, por serem tidos por militares bem conceituados, capazes e experientes na arte da guerra, além de respeitados por sua autoridade, O centurião deste episódio do Evangelho desfrutava de todas essas prerrogativas. Estando a serviço do tetrarca Herodes Antipas, comandava uma das poucas guarnições estacionadas na província, e ali era considerado uma figura importante.
Já de início, um detalhe desperta a atenção e nos faz compreender melhor o significado desse primeiro milagre realizado em favor dos gentios: a sensibilidade do oficial em relação a seu escravo,3 atitude incomum na sociedade da época, regida pelo Direito Romano, o qual considerava o escravo como res — coisa. Segundo Fillion, tal compaixão era algo “muito raro entre romanos e gregos, que, em geral, tratavam seus escravos com enorme desprezo e dureza, chegando frequentemente à crueldade”.4 Além de revelar uma natural retidão de alma, esse indício dos “nobres sentimentos de humanidade”5 que animavam o centurião deixa transparecer quanto suas disposições consonavam com os ensinamentos preceituados havia pouco por Cristo.
1)Cf. SAO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.43, a.4.
2) Idem, a.2.
3) Embora na tradução litúrgica conste “empregado”, o original grego fala em δούγος (douloj), isto é, escravo
4) FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Vida pública. Madrid: Rialp, 2000, v.11, p.127.
5) FILLION, Louis-Claude. Los milagros de Jesucristo. Barcelona/México: Circulo Latino, 2005, p.294.

Continua no próximo post.

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