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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Evangelho 3º Domingo do Advento ( Domingo Gaudete) Ano A - 2013

Comentários ao Evangelho III Domingo do Advento  Mt 11, 2-11 ( Domingo Gaudete) Ano A – 2013
 Mons João Clá Dias
“Naquele tempo, 2 João estava na prisão. Quando ouviu falar das obras de Cristo, enviou-Lhe alguns discípulos, 3 para Lhe perguntarem: ‘És Tu, Aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?’.
4 Jesus respondeu-lhes: ‘Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: 5 os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. 6 Feliz aquele que não se escandaliza por causa de Mim!’.
7 Os discípulos de João partiram, e Jesus começou a falar às multidões sobre João: ‘O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8 O que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Mas os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis.
9 Então, o que fostes ver? Um profeta? Sim, Eu vos afirmo, e alguém que é mais do que profeta. 10 É dele que está escrito: ‘Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de Ti’. 11 Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele’” (Mt 11, 2-11).


Uma lufada de ânimo para chegar até o fim
Dizia o célebre teórico de guerra Karl von Clausewitz1 que a melhor forma de vencer um adversário é fazê-lo perder o ânimo de combater, pois a quebra de sua força moral é a causa principal de seu aniquilamento físico. Assim, quando empreendemos uma ação com desânimo, não atingimos a meta. Pelo contrário, quem tem uma confiança sólida, baseada numa fé vigorosa, desenvolve energias e entusiasmo para perseverar até o fim com galhardia. Se, por acaso, na realização de um árduo esforço, sentimos faltar o fôlego, basta uma lufada de esperança para redobrar as boas disposições e garantir o sucesso.
A Igreja, no 3º Domingo do Advento — chamado Domingo Gaudete —, tem em vista este propósito: fazer uma pausa nas admoestações do período de penitência e amenizar a tristeza causada pela lembrança dos pecados cometidos, para considerar com alegria a perspectiva do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em breve seremos libertados de nossa miséria, se soubermos ouvir os seus ensinamentos e nos abrirmos às graças que Ele nos traz, e poderemos seguir adiante com entusiasmo, confortados pela certeza de que nos será dada a salvação. Esse verdadeiro gáudio pela próxima vinda do Redentor é a nota tônica desta Missa, simbolizada pela cor rósea dos paramentos e expressa nos textos litúrgicos, sem, todavia, excluir totalmente o caráter penitencial. Depois do pecado original, a cruz tornou-se indispensável para obtermos a glória no cumprimento da finalidade para a qual fomos criados.
A sede de felicidade da criatura humana
Se voltarmos nossa atenção para cada criatura humana, encontraremos em todas elas o desejo de alcançar a felicidade. Quando Adão, belíssimo boneco de barro, saiu das mãos divinas e lhe foi infundido um sopro de vida, já possuía ele essa aspiração que era atendida com largueza por sua participação na própria natureza de Deus, a Felicidade Absoluta. Tão elevada era a figura deste varão que o Senhor ia visitá-lo no Paraíso, à hora da brisa da tarde (cf. Gn 3, 8). Eram felizes nossos primeiros pais! Porém, expulsos daquele local de delícias em consequência do pecado, Adão e Eva viram-se obrigados a habitar este mundo repleto de dificuldades, sem perder, entretanto, aquele anseio de felicidade. Ardiam de desejo de retornar ao estado de outrora, de gozar das maravilhas que tinham conhecido no Éden. Mais tarde, constituído o povo de Israel, especialmente amado pela Providência, esperava ele o advento de um Salvador que o tirasse dessa desditosa situação.
Com o transcurso dos séculos e dos milênios, os hebreus ― sempre numa tremenda instabilidade e submetidos à escravidão por diversas vezes ― foram alimentando a ideia de  que o Messias seria um homem aquinhoado por dons meramente naturais, portador de soluções humanas e políticas para todos os problemas. Sua grande incógnita era acerca da vinda deste enviado que traria a felicidade, a qual já não concebiam como uma condição semelhante à do Paraíso, mas segundo padrões terrenos. Algo parecido ocorre conosco, pois sabemos que o centro de nossa vida e a fonte da alegria é Nosso Senhor Jesus Cristo; contudo, as ilusões do mundo apontam para uma pseudofelicidade baseada em boa carreira, na aquisição de um valioso patrimônio, numa posição de prestígio, num vantajoso casamento ou, talvez, em negócios lucrativos. Numa palavra, a felicidade para os que assim pensam está na matéria, e não em Deus. Eis aí o lamentável equívoco.
Para desfazer esta falácia, a Liturgia do Domingo da Alegria nos indica o verdadeiro caminho da felicidade e oferece um exemplo seguro a seguir.
A alegria de cumprir a própria missão
O episódio narrado na sequência evangélica do 3º Domingo do Advento dá-se em circunstâncias muito especiais. Nosso Senhor estava adentrando o segundo ano de sua vida pública e já realizara inúmeros milagres, encontrando-Se de regresso da pequenina cidade de Naim, onde por sua iniciativa ressuscitara o filho de uma viúva (cf. Lc 7, 11-15). Ao passar pelas estradas tortuosas da região entrou no vilarejo e deparou-Se com alguns homens transportando um morto. Mandou parar o cortejo e restituiu a vida ao defunto, entregando-o em seguida à sua mãe. Este fato teve enorme repercussão que, somada à de muitos outros, moveu Israel inteiro a falar do grande Profeta que havia surgido.
O Precursor pagou sua fidelidade à verdade com a prisão
“Naquele tempo, 2a João estava na prisão”.
João Batista, varão íntegro que recentemente abalara Israel com sua pregação e exemplo de vida, havia sido preso. Em sua retidão, o Precursor dissera algumas verdades ao rei Herodes Antipas ― que, escravo das próprias paixões, era dominado por uma concubina, a esposa de seu irmão Filipe ― e, por isso, o tirano resolvera prendê-lo. Pungente contraste: as paixões desregradas e soltas de Herodes dão-lhe uma liberdade de ação ilegítima, e a honestidade de João leva-o à prisão.
Na perspectiva do Domingo Gaudete surge uma pergunta: qual dos dois goza de autêntica alegria, Antipas, o adúltero, ou São João, encarcerado por sua fidelidade? Devemos nos compenetrar de que Deus criou o homem para um destino eterno, no gáudio ou no sofrimento. Portanto, a verdadeira alegria é a que nos conduz à felicidade do Céu, e não aquela que nos acarreta a desgraça sem fim. No entanto, a humanidade bem gostaria de criar uma terceira via: um limbo onde não houvesse sofrimento nem possibilidade de visão beatífica, mas apenas uma vida natural, puramente sensitiva, pela eternidade inteira.
Lembremo-nos da importante máxima: “non datur tertius ― não há uma terceira posição”. Esta foi inventada por satanás ao cair do Céu e é feita de fumaça, é ilusória, pois na realidade não existe: ou violamos a moral e damos vazão às nossas más inclinações, reproduzindo em nós a pseudoalegria de Herodes Antipas, ou somos íntegros, a exemplo de João, e também nós estamos a todo instante na “prisão”, ou seja, subjugando e acorrentando nossas tendências e paixões desordenadas.

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