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segunda-feira, 5 de maio de 2014

EVANGELHO – IV DOMINGO DA PÁSCOA – Jo 10, 1 - 10 – ANO A

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO – IV DOMINGO DA PÁSCOA – Jo 10, 1 - 10 – ANO A
Os ladrões de almas...
8”Todos aqueles que vieram antes de Mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram”.
Neste versículo, Jesus estabelece uma distinção muito clara entre o que Ele faz pelas ovelhas e o modo de agir dos bandidos. Através dos patriarcas e dos profetas, Deus revelara ao povo eleito a Religião verdadeira. No entanto, quando o Redentor veio ao mundo, seus representantes — perdido o desejo de salvar as almas — a desviaram daquele rumo inicial, só se preocupando em manter sua posição de prestígio na sociedade. Tais eram os fariseus, verdadeiros mercenários que, ao invés de proteger o rebanho, o oprimiam, transmitindo-lhe uma doutrina deturpada e egoísta, pela qual exigiam o cumprimento dos atos exteriores e desprezavam “os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade” (Mt 23, 23). Ora, o Divino Mestre expunha a verdade e mostrava como deveria ser o autêntico trato entre os ministros de Deus e o povo, contrário ao que os fariseus preconizavam com suas práticas. Cada palavra de Nosso Senhor soava como uma acusação à atitude que eles tomavam, recusando-se a aceitar sua mensagem e a Redenção que lhes oferecia. Assim, os fariseus não só desempenhavam o papel de ladrões, como também fechavam a porta do redil às ovelhas: “Vós fechais aos homens o Reino dos Céus. Vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar” (Mt 23, 13).
É possível que também nós nos deparemos com quem se diga pastor, mas na realidade não o seja. São mercenários gananciosos, que vivem à busca de dinheiro, mais preocupados com sua subsistência e com o acúmulo de riqueza do que com o bem das almas. Cabe-nos rezar para estarmos concernidos no exemplo das ovelhas que são dóceis à voz do pastor e não escutam os bandidos. Permaneçamos sempre atentos para saber o que a graça quer de nós, procuremos afastar-nos dos perigos e nunca nos desgarremos da grei de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ao mesmo tempo, o demônio e as paixões também agem com relação a nós como um salteador. Todos nascemos com a Lei de Deus gravada no coração, a qual nos impulsiona a buscar a verdade, o bem, o belo, o unum, e a repelir seus opostos.5 Em consequência, para abraçarmos o mal e optarmos pelo erro somos obrigados a deformar a consciência, construindo uma doutrina falsa que justifique nossa escolha. Deste modo, aceitamos sem obstáculos o ladrão — ou seja, o demônio, o pecado — que entra no aprisco, e a ele nos entregamos.
É Cristo que robustece o senso moral
9 “Eu sou a Porta. Quem entrar por Mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem”.
Em sentido contrário ao apontado no versículo anterior, o Divino Mestre Se apresenta como a Porta que dá acesso à pastagem, porque é Ele quem nos leva a robustecer o senso do ser, o senso moral que o pecado enfraquece.6 A voz de Nosso Senhor Jesus Cristo nos convida à inocência, à prática da virtude; nela reconhecemos o timbre da santidade. Ao dizer: “Eu sou a Porta”, Ele Se declara o Messias, o único caminho para a salvação, o único que possui o direito de conduzir o rebanho.
Uma aplicação à Igreja
Esta ideia se coaduna inteiramente com a promessa de imortalidade da Igreja, feita por seu Divino Fundador ao Príncipe dos Apóstolos: “tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). A voz de Jesus Cristo é inconfundível para as ovelhas que de fato aderiram a Ele, e ninguém as ilude. Por mais que os meios de comunicação ou os inimigos da Igreja tentem desviá-las, fazendo propaganda daquilo que é alheio a Ele, quem segue o Bom Pastor sente no fundo da alma onde está a verdade. E Ele sempre concede ao rebanho graças especiais para dispersar seus adversários.
Deus quer nos dar tudo em abundância
10 O “O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.
Ainda em linguagem parabólica, Ele indica o pecado daqueles que desviam os outros da Religião verdadeira: matam as almas, afastando-as de Nosso Senhor, que é a vida. E a missão d’Ele, ao contrário, é dar aos homens essa vida, a qual é muito superior à que anima a formiga, o colibri, o esquilo, o homem e até mesmo os Anjos, pois é a vida do próprio Deus! Ele a introduz em nossa alma no Batismo e a confirma quando recebemos a Crisma.
Mas... que vida tem Deus? Parece tão simples e nossa inteligência não consegue alcançá-la, porque Ele é eterno, infinito, onipresente, onipotente, onisciente! E é tão rico que o Pai, ao pensar em Si mesmo, gera uma Segunda Pessoa, igual a Si, que é a Palavra d’Ele, o Filho. Os dois Se olham e Se amam tanto, que do encontro desses dois amores procede o Espírito Santo, a Terceira Pessoa, idêntica ao Pai e ao Filho. Eis a vida de Deus: desde toda a eternidade e por toda a eternidade, os três Se contemplam, Se entendem e Se amam mutuamente. A criação do universo foi como um transbordamento do que há em Deus, mais ou menos à maneira de um champagne que extravasa da garrafa e se derrama em taças. Ele quis nos criar para nos tornar partícipes da felicidade d’Ele, e por isso “o Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Ele Se fez Pastor, Ele Se fez Porta, para que todos nós recebêssemos “da sua plenitude graça sobre graça” (Jo 1, 16), e tivéssemos a vida “em abundância”.

Se Deus põe à nossa disposição essa vida com tal generosidade, basta pedir que Ele no-la dará. E não aos pouquinhos, porque Deus não é como uma pobre mãe a quem só resta um pouco de farinha e de azeite com que preparar um pão para o filho que quer comer um bolo. Ele possui tudo o que nós precisamos! Não podemos ter horizontes estreitos, ser medíocres na oração, mas devemos ser pessoas de grandes desejos, que imploram coisas ousadas na linha da perfeição. E como todos somos chamados à santidade, se rezarmos com decisão e energia, por meio da Santíssima Virgem, é certo que Ele nos atenderá.
Continua no próximo post

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